Meu querido diário,
Trancado sob o escapulário que minha mãe me deu
Confidente dos pensamentos só meus
Há tempos que não lhe abria
Desde aquele dia que eu chorei pela última vez
Não desfruto da sua companhia
É que pensei que fosses mais antiquado
Do que retratos pintados à mão
Mas esqueci-me que só você
Me vê pelos esquadros da dor
Venho, depois desse longo hiato
Contar-lhe um fato deveras estarrecedor
Após a longa noite em que se transformou minha vida
Nasceu em mim, novamente, a esperança do amor
Eu não tenho mais pressa
Meu único último desejo
É que o tempo seja destituído do seu altar
E aproveitado como simples instrumento
Que sejamos mensurados em momentos
E as rugas sejam de paixão
Meu querido diário,
Já não ando mais tão triste
Pode parecer só um chiste
Mas para você não guardo segredos
Você bem sabe
Ando até sorrindo
E caminhando de cabeça erguida
Agora sei que tem gente amiga pra me escutar
E pra me dar a mão
Meu querido diário:
Coração.
sábado, 22 de janeiro de 2011
terça-feira, 18 de janeiro de 2011
A sombra
Aquela antiga jovem amiga
Ontem veio me visitar em sonho
Dando-me ciência dos meus sentimentos
E se um dia eu a amei
Foi-se então o tempo
Na figura onírica que formou-se
Ela tinha cabelos grisalhos
Como se estivesse a desbotar
Já tendo se esvaído toda a imagem de anjo
Construída ao longo de anos
Não que tenha qualquer importância
Minha opinião subconsciente
Porque a realidade é bem mais importante
E os fatos são que ela
Não é nem sombra do que era antes
Perdeu a risada simples
E tom de comédia pastelão
Embriagou-se com um novo mundo
Cheio de diversão
Vomitou nos velhos hábitos
Perdida na noite
Seus cabelos negros permanecem
Mas seu coração é que é agora grisalho
Não há do que reclamar, por fim
Ela vai ser muito feliz
Mas o será bem longe de mim.
Ontem veio me visitar em sonho
Dando-me ciência dos meus sentimentos
E se um dia eu a amei
Foi-se então o tempo
Na figura onírica que formou-se
Ela tinha cabelos grisalhos
Como se estivesse a desbotar
Já tendo se esvaído toda a imagem de anjo
Construída ao longo de anos
Não que tenha qualquer importância
Minha opinião subconsciente
Porque a realidade é bem mais importante
E os fatos são que ela
Não é nem sombra do que era antes
Perdeu a risada simples
E tom de comédia pastelão
Embriagou-se com um novo mundo
Cheio de diversão
Vomitou nos velhos hábitos
Perdida na noite
Seus cabelos negros permanecem
Mas seu coração é que é agora grisalho
Não há do que reclamar, por fim
Ela vai ser muito feliz
Mas o será bem longe de mim.
segunda-feira, 3 de janeiro de 2011
O incêndio
Há cinzas por todos os lados
Os espelhos foram todos cremados
Mas eu não preciso deles
Para saber o que meu rosto diz
Dou socos no ar, e grito
"Está tudo queimado, mas eu não morri!"
Mas talvez eu esteja enganado
Sinto que as labaredas não se dissiparam
E que por dentro eu queimo
São os resquícios do incêdio que estão em mim
O fogo, com seu senso de ironia
Queimou toda a mobília
Sala, copa, banheiro e cozinha
Para me deixar para o fim
Então de repente, de forma latente
Palpita em minha cabeça a mitologia
A fênix que queima e renasce
Os sonhos me invadem, grandiosos
Meu coração ardente clama por misercórdia
Mas não iremos fazer isso pela glória
Vencer é questão de sobrevivência
Se o fogo não tem clemência
Eu não tenho mais o que perder.
Os espelhos foram todos cremados
Mas eu não preciso deles
Para saber o que meu rosto diz
Dou socos no ar, e grito
"Está tudo queimado, mas eu não morri!"
Mas talvez eu esteja enganado
Sinto que as labaredas não se dissiparam
E que por dentro eu queimo
São os resquícios do incêdio que estão em mim
O fogo, com seu senso de ironia
Queimou toda a mobília
Sala, copa, banheiro e cozinha
Para me deixar para o fim
Então de repente, de forma latente
Palpita em minha cabeça a mitologia
A fênix que queima e renasce
Os sonhos me invadem, grandiosos
Meu coração ardente clama por misercórdia
Mas não iremos fazer isso pela glória
Vencer é questão de sobrevivência
Se o fogo não tem clemência
Eu não tenho mais o que perder.
sábado, 1 de janeiro de 2011
Os mortos não choram
As bailarinas dançaram o quebra-nozes
Em cima dos corpos imóveis
Mas tristes, desistiram
Quando o silêncio persistiu, incólume
A torturar-lhes a vaidade
E o sonho que elas tinham
De expor toda a beleza
Foi levado pelo vento
Junto às suas convicções
Tornaram-se putas baratas
Dançarinas de bórdeis
O que elas ignoravam, decerto,
É que é impossível ser aplaudido num mundo deserto
E as lágrimas devidas
A mais bela das coreografias
Simplesmente, não vieram à tona
Porque os mortos não choram.
Dedicado à Ana, minha, agora, bailarina favorita.
Em cima dos corpos imóveis
Mas tristes, desistiram
Quando o silêncio persistiu, incólume
A torturar-lhes a vaidade
E o sonho que elas tinham
De expor toda a beleza
Foi levado pelo vento
Junto às suas convicções
Tornaram-se putas baratas
Dançarinas de bórdeis
O que elas ignoravam, decerto,
É que é impossível ser aplaudido num mundo deserto
E as lágrimas devidas
A mais bela das coreografias
Simplesmente, não vieram à tona
Porque os mortos não choram.
Dedicado à Ana, minha, agora, bailarina favorita.
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