domingo, 8 de maio de 2011

A volta a dois.

Abandonei a vocês por um tempo
Meus versos tristes e sangrentos
Mas sinto que volto para vós
E dessa vez não estamos mais a sós

Porque ela vem conosco nessa viagem
Ela que ama conhecer novos lugares
Vamos guiá-la até ela onde nunca sonhou
É hora de conhecermos finalmente o amor

Porque até coisas sujas que a querida me diga
Enchem de cândura toda a minha vida
Não bastasse ela me ganhar da solidão
Meu relembrou que ainda tenho coração

Que tenho alma que devora e devorada
Ignora a realidade de qualquer estrada
E alça sonhos de coisa parecida com felicidade
Que faz eu duvidar do absolutismo da verdade

Com um nome, um acorde cifrado no tom da paixão
Ela acorda ao meu lado, após dormirmos no chão
E se é pecado amar outras coisas sobre Deus
Serei castigado de bom grado com um sorriso seu

A fé
     me volta
            assim, de repente,
                     como quem caminha a ser feliz.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Chagas

No meu peito cheio de brotoejas
Por baixo do osso esterno
Bate um coração cheio de chagas
Que apesar do que a alma esbraveja
E do que me insiste dizer o clero
É um músculo forte, mas que vaga.

Se Jesus sofreu por um mundo inteiro
Por que não posso sofrer pelo meu mundo?
No segundo em que a dor acabar
Não sei se irei encontrar o meu rumo
Todavia meu rumo agora, se resume a não saber
Pra aonde rumar
E o grito dos meus anseios é só um sussuro
Que do pulmão sai com toda força
Sendo emudecido pelo destempero e a têmpora
A pulsar com meu sangue

Procrastino o destino, e o nego
Continuarei a sempre negá-lo
Até o dia em que olharei para trás
E vê-lo-ei, de soslaio
Sofri, mas nada pude mudar.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

O canto

Meu coração é de veludo
Minha cabeça é de lata
Meu corpo, não é nada mais
Que um porta objetos
Inanimados, por definição

Defenestro meus pesadelos
Mesmo sabendo que a solução é momentânea
Tenho muitos medos
E será que eu conseguiria dormir sozinho,
se soubesse que ia morrer à noite?

A vida tem sido um fardo
Desde que eu coloquei a fé de lado
Vivo a pensar
Sorrisos não são mais permitidos
Se o tempo é relativo
Porque eu me encontro perdido
No limite do ostracismo amoroso
E do dever de agir

Meu caro, as sinapses não vao parar por enquanto
E o canto final desse pássaro triste
Parecerá para o resto do mundo
Um gracejo, um chiste.
Até parar
Completamente.

Sou um poeta ou um comediante?

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Saudades

Chamem do que quiser
Destino, acaso ou providência
Tudo que eu sei é que, simplesmente,
Agora, me é impossível tocar-lhe a mão

E eu já me vali de todas as seitas e religiões
De toda a magia que me indicaram
E eu não consigo, nem com todo amor
Superar a distância dimensional
Que se faz presente, a cada minuto a mais da sua ausência

E essas palavras são vãs
São inúteis,
Não me colocam em sua companhia
Mas são os resquícios de nós
São a codificação mal feita do que resta no meu peito

Eu já consigo chorar
Sozinho, mas consigo
Talvez um dia eu consiga me perdoar
Por não ter podido prever o futuro
Por não ter podido salvar o nosso mundo
E minha crença patética na vida eterna
É sustentada pelo fio de esperança
De te ver uma vez mais.

sábado, 22 de janeiro de 2011

Querido diário

Meu querido diário,
Trancado sob o escapulário que minha mãe me deu
Confidente dos pensamentos só meus

Há tempos que não lhe abria
Desde aquele dia que eu chorei pela última vez
Não desfruto da sua companhia

É que pensei que fosses mais antiquado
Do que retratos pintados à mão
Mas esqueci-me que só você
Me vê pelos esquadros da dor

Venho, depois desse longo hiato
Contar-lhe um fato deveras estarrecedor
Após a longa noite em que se transformou minha vida
Nasceu em mim, novamente, a esperança do amor

Eu não tenho mais pressa
Meu único último desejo
É que o tempo seja destituído do seu altar
E aproveitado como simples instrumento
Que sejamos mensurados em momentos
E as rugas sejam de paixão

Meu querido diário,
Já não ando mais tão triste
Pode parecer só um chiste
Mas para você não guardo segredos
Você bem sabe
Ando até sorrindo
E caminhando de cabeça erguida
Agora sei que tem gente amiga pra me escutar
E pra me dar a mão

Meu querido diário:
Coração.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

A sombra

Aquela antiga jovem amiga
Ontem veio me visitar em sonho
Dando-me ciência dos meus sentimentos
E se um dia eu a amei
Foi-se então o tempo

Na figura onírica que formou-se
Ela tinha cabelos grisalhos
Como se estivesse a desbotar
Já tendo se esvaído toda a imagem de anjo
Construída ao longo de anos

Não que tenha qualquer importância
Minha opinião subconsciente
Porque a realidade é bem mais importante
E os fatos são que ela
Não é nem sombra do que era antes

Perdeu a risada simples
E tom de comédia pastelão
Embriagou-se com um novo mundo
Cheio de diversão
Vomitou nos velhos hábitos
Perdida na noite
Seus cabelos negros permanecem
Mas seu coração é que é agora grisalho

Não há do que reclamar, por fim
Ela vai ser muito feliz
Mas o será bem longe de mim.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

O incêndio

Há cinzas por todos os lados
Os espelhos foram todos cremados
Mas eu não preciso deles
Para saber o que meu rosto diz
Dou socos no ar, e grito
"Está tudo queimado, mas eu não morri!"

Mas talvez eu esteja enganado
Sinto que as labaredas não se dissiparam
E que por dentro eu queimo
São os resquícios do incêdio que estão em mim

O fogo, com seu senso de ironia
Queimou toda a mobília
Sala, copa, banheiro e cozinha
Para me deixar para o fim

Então de repente, de forma latente
Palpita em minha cabeça a mitologia
A fênix que queima e renasce
Os sonhos me invadem, grandiosos
Meu coração ardente clama por misercórdia
Mas não iremos fazer isso pela glória
Vencer é questão de sobrevivência
Se o fogo não tem clemência
Eu não tenho mais o que perder.