sábado, 30 de outubro de 2010

Ai, meu Deus

Deus existe? Não sei
Eu não acredito
Descobriremos quem está errado
Quando a morte bater à porta
Na verdade, não
Porque não existe nada depois da morte
Isso porque Deus não existe.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Coloquial

Eu queria ser viado
Porque os homens, em geral, são mais inteligentes
Sigo procurando a exceção
Por apreciar uma boa vagina quente

E se te escandaliza essas palavras
É porque tem um mínimo de moral cristã
Deus é só uma falácia
Que não entende nada de genitália

Se o preconceito ainda te toma
Não sou tão genial quanto Bocage
Mas que vás para o inferno
Esperando de quatro um milagre

Porque eu quero alguém que me compreenda
Mas não tenho prazer carnal no masculino
Então guardo bem os meus amigos
E me regozijo no carnaval

Mulheres normais, não se sintam mal por mim
Eu ainda as amo, sobretudo pela ternura
Mas, para companheira, eu preciso de alguém diferente, com outra postura
Uma amiga, mais que um amor.

Um trago

Acordei mais cedo, hoje
E há em mim uma inquietude que solicita atenção
Porque eu sei que é um dia
Especial por se tratar de exceção

Pego na mão o maço de cigarros
Procuro os fosfóros, porém, em vão
(Devia ter comprado um isqueiro, me repreendo)
Mas ainda é cedo demais e só me valem os fósforos
Que estão escondidos por debaixo das vicissitudes da minha existência
Sem eles, os cigarros me são inúteis

Mastigo um pouco de tabaco, para aliviar a tensão
Mas só penso nos fósforos
E nas idéias que eu tenho
Que são cigarros sem o que as acenda
Esses, estão perdidos pelo mundo,
Não faço idéia de quem tenha algum para me emprestar
E acho que nem são vendidos na padaria os fósforos
(metafóricos)

E minha poesia tem cheiro, tem sabor
Mas é inútil, não passa de mero devaneio
Porque a sua plenitude necessita de pegar fogo
Paradigmático pedaço de tabaco virgem
Aceso pelo coração dos que sonham
Ou dos que perderam todos os sonhos

Eu vou morrer, mas sei lá quando
A única verdade inefável agora é que estou com os pulmões limpos
À contragosto, porque o prazer pede sacrifícios
E luta, e morte lenta, imperceptível
Mas não tenho os malditos fósforos
E não tenho a maldita sorte
Sequer sei se tenho o maldito talento

Mas hoje é um dia de exceção
Nos tempos de exceção
E dizem que a chave da felicidade é o amor
Eu amo os cigarros, mas não tenho como os acender
Eu amo a poesia, mas mal a posso escrever
Para que um desconhecido a leia
E mastigue um pouco, só pra sentir o gosto
Que devia ser gasoso e chegar ao peito
E se, por acaso, um alienígena
Tiver uma labareda nos olhos
Ainda temos o Ministério da Saúde pra advertir
Que fumar causa dor, sofrimento e morte
Ler poesia, também
Amar também
Mas ainda vale, pelo prazer

Já é dia e a padaria já deve estar aberta
Vou buscar os fósforos e fumar
Fumar até morrer de desgosto
Enquanto escrevo, pra que alguém, algum dia
Entre na minha loja de inconveniências
E sirva-se, da minha poesia ardente
E que tome cuidado, pra não queimar por acaso o coração
Como eu fiz com meu braço esquerdo
Mas isso foi com um cigarro
Alías, de que importa,
A diferença é simplesmente de dimensão
A carne e o espírito
Vítimas do vício
Prisioneiros do fogo e da paixão

As guimbas estão no vaso
Dou descarga
As folhas estão no chão.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Imóvel

Até hoje só vivi em um lugar
Talvez por isso, me considere de lugar nenhum
O meu mundo, todo ele, não possui divisões
Nem lugares no qual eu nunca fui
Vivo em todos os lugares
Que são apenas um
Indivisível

Hão de me perdoar aqueles mais vividos
Mais experientes, que tem tantas marcas pra mostrar
Mas eu nunca soube o que é sair daqui
Tive vontade, até que o medo tomou conta
Até que a fome apertou feito criança

Eu posso até voar, mas rasante
Perto do chão, comendo larvas como os pássaros
Nunca ousando voar tão alto quanto avião
Sem a mínima noção do que irá acontecer
Já que ainda não sei como sair daqui
Desde que nasci, se não me falha a lembrança
É que eu vivo nesse lugar
Uma caverna chamada Esperança.

Sou um pagão esperando a volta do salvador ateu.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Confissão

Não sou poeta porque sofro
Se sofro, é porque sou humano
As letras é que teimam em se agrupar
E dizer algo que não sentem
Se apoderar da dor que não é delas
Roubando emoções alheias
Com a promessa malograda
De as levarem para sempre

Sou poeta porque sou ignorante
E ,apesar do meu materialismo,
Continuo a acreditar
Que escrever o que eu sinto
Possa, de alguma forma, abrandar
O cinismo que opera minha alma
Toda vez que a maldita crê
Que é feliz quem o quer ser

Em vão
Sou poeta eternamente
Desejando à exaustão
Nunca deixar de sê-lo

domingo, 24 de outubro de 2010

O alto da cidade

Aqui do alto da cidade
Da pra ver que os outros dormem
Junto aos meus amigos
Fumamos cigarros e bebemos vodka barata

Aqui em cima, nada importa
Não chega até a colina o cheiro de bosta
Que exala no convívio diário
Aqui em cima a cidade é nossa
E, mesmo que só por algumas horas,
A liberdade bate à porta

Vandalizando como crianças
Rolando no asfalto cheio de lembranças
Um portal pra outro mundo na madrugada
E o calor da amizade, na brisa gelada

Aqui em cima, um socialismo de reis
Somos todos Deuses, somos todos plebeus
Encostados no carro, com vontade de vomitar
Rindo alto e gritando pra ninguém escutar

Aqui em cima, nada importa
Não chega até a colina o cheiro de bosta
Que exala no convívio diário
Aqui em cima a cidade é nossa
E, mesmo que só por algumas horas,
A liberdade bate à porta

Às seis, o sol vem nos expulsar
Por trás do letreiro em francês
Não leva em conta se ali é o nosso lugar
E se voltaremos a ser infelizes
Descendo
Voltando ao lodo
Agora, só a madrugada nos pertence
Vampiros modernos
Mordendo pelo pescoço o sincero presente
Que só a lua soube entender.

sábado, 23 de outubro de 2010

Há quase um ano

Vá, eu tenho muita esperança,
Mas às vezes esbarro na herança da minha raça
E me canso de tentar conquistar o que eu queria

Bem que eu tentei de outras formas
De doces a rosas
Mas só me resta na cartola
A tal da poesia

Pra convencer-te de tal maneira
Que eu não pareça igual a tudo que vivestes
Eu, que ignoro o seu passado,
Mas quando vejo os seus olhos,
Tão de perto ou em fotos,
Cético que sou,
Busco saídas no horóscopo,
Desprezo o carnaval.

E na boemia a que me entrego
Com a experiência de um sacerdote
Faz falta a tua presença
Na liturgia dos velhos bares

Sei que talvez eu possa,
Não inspirar-lhe muitas certezas
Sei que a aposta é cara
E talvez que o prêmio, não compensa
Então, só me resta que meus versos
tão brutos e simples
Te envolvam, mudos e sinceros
Em um abraço roubado e gostoso
Tão poderoso
Meio doce e meio amargo
Com aquela pontinha de medo no peito
E o sorriso aberto na cara

É minha última cartada
Antes de perder o que eu nem cheguei perto de ganhar
Eu não preciso te conhecer pra gostar-lhe
Basta saber que, cético que sou,
Deixo a intuição me levar
E abandono por você todas as minhas convicções.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Flor de Cemitério

Uma flor tomava sol ao meio-dia
Exalando ousadia
Desafiando velhos poetas
não era amarela, nem medrosa
Rosa altiva vermelho-sangue
Solitária ne encosta de um cemitério

Não queria ser funcionário público,
Nem advogado, nem médico
Mais do que tudo, almejava ser flor
Solitária na encosta do cemitério
Um pouco de cor ao cinza das lápides

Não precisava ser regada
Se alimentava da morte
Sorte de quem vive no cemitério
e é amiga do coveiro
Garçom dos mais prestativos

Alma não tinha
Nunca aprendeu a rezar a ave-maria
apesar de ouvi-la quase todo dia
Também, que importa,
Pra quem fotossintetiza amor?

Ás vezes o vento a tirava pra dançar
a valsa dos diferentes
Solitários na encosta do cemitério
Loucos dançando sem música
Cambaleando sem sair do lugar

Devia estar ali há duzentos anos
Nunca morreria
Até o fatídico dia
em que foi colhida
e morreu nos cabelos de uma mulher.

Nada

Eu me entrego a você
Mesmo sem saber no que pode te ajudar
Talvez pelo exemplo do que não fazer
O alívio de não ser eu

Eu me entrego a ti
Com o sangue não metafórico que ouso derramar
Tome um drink logo
Que já vai cicatrizar
E retornar a condição de mera linguagem

As palavras, efêmeras,
Têm demonstrado muita dificuldade
Em combater com eficiência
A ditadura das imagens
Que perderam o controle e
têm a insolência de se revoltar
Aguçando os cinco sentidos de maneira controversa
Pobres, palavras, coitada delas!
Nas eras modernas tem que se aproveitar da omissão
Mentir, sim, por que, não?
A verdade, agora, pertence às imagens.

Eu quero me entregar
De um jeito que não tenha volta
Olhar para o céu e blasfemar
"Que paredes tortas"
O sol se apagou, no interior do meu quarto
É madrugada, toda artificial
Não possuo nada,
Tal qual eu sempre sonhei
Eu sou o escravo liberto
Com responsabilidades de rei
Sou esperto o bastante para saber
que olho sempre pro mundo
E o mundo fingi que nunca me vê
O nada me cortejou e, fácil que eu sou,
Entreguei-lhe, com satisfação, todo o amor que eu nunca vou ter.

27 anos

Faça soar de uma maneira
Que as palavras sejam coisas secundárias
E que você faça se entender
Pela beleza que transpassa, rara

Aniquila o ódio que embala os seus sonhos
E ame sem precisar dizer "eu te amo"
Comunicaremo-nos pelas entrelinhas
Entre conversas fúteis e mesquinhas

Você vai me reconhecer
Quando notar que já não tem mais esperança
E vai crer que se voltasse a ser criança
Nada ia mudar

O sorriso estampado na fotografia
Parece tão mais colorido
De que eu me lembro ter sido aquele dia
Que eu ainda não tinha a capacidade de prever
No qual eu não fazia planos de morrer
Aos 27 anos

E as camisas amarrotadas
Que passaram tanto tempo no meu corpo
Foram lavadas pelo meu suor
Que cai em gotas e evapora logo que começa a escorrer

O inferno é aqui mesmo
Eu sei que os Demônios vivem aqui dentro
Apertados e sedentos
Loucos para ver a luz do dia
Mas também sei que eu sou meu Deus
Mais que tudo, um campo de batalhas
Travadas incessantemente e,
Tão pouco castas
Quando eu te disser as primeiras palavras
Não importa o que houver
Olhe nos meus olhos
Você vai me reconhecer.

O futuro

O futuro é apenas um universo paralelo
Que construímos com nossos sonhos
Pequenas plantas rasas do porvir
Que serve de analgésico à realidade,
Frustrante presença amiúde

Por que viver, se podemos sonhar?
E por que não sonhar, se temos que viver?
É madrugada e eu me recolho ao quarto
Mais uma noite sem sono, fruto de um dia comum
Planejo metodicamente o dia de amanhã
Que nunca chega
É hoje; sempre.

Cambaleio por entre estradas metafóricas
Numa denotação de desespero
Ruborizando as minhas faces
Desapontado
Chega de sonhar
Só quero dormir.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

História em números

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