domingo, 26 de dezembro de 2010

Fim de noite

Vindos do estrangeiro
Que vive em casa
Esses versos podem até
Não significar mais nada
Do que deveriam ser

E se houver tempo
Para um pequeno conserto
Eu gostaria de dizer
Que eu só sou assim
Por não saber mais sobre mim

E de fato, se eu descobrisse
Que existem pessoas felizes
Por detrás das vitrines
Por debaixo das roupas
Se eu conseguisse diferenciar
As pessoas dos manequins

Sento e pereço lentamente
Acho que mereço a decência
De saber o porquê.
Afinal, OS meios se perderam
Antes do fim

Caminho entre mentes brilhantes
Tão desinteressantes
Por pensar em iluminar
Apenas o que julgam consonantes
Com o seu próprio brilho

Tento então seguir pelos flancos
Aos trancos e barrancos
Com mais pesar do que esperança
Me apego às lembranças e ao porvir
Porque hoje, infelizmente
Não deu pra mim.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Meia-noite

Já são mais de meia-noite
Eu ainda não dormi
Hoje já é amanhã
Apesar de hoje ser o que eu já vivi
E tudo se entralaça
Numa espiral confusa
Que transpassa e ofusca
O brilho fúnebre da lua

Eu deito no meu leito
Observando os répteis que se mexem
Na parede do meu quarto
São mais rápidos que o tempo
E se cruzam e cruzam no teto
Dando vida a mais segundos

No meio disso tudo
Numa completa idiossincrasia
Eu encho a boca pra dizer
Com toda a hipocrisia que me permito ter
Ahh, a vida!
Quisera eu tê-la vivido
No dia de ontem.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

À noite e à vida

Eu venero à Noite
Como deusa que ela é
Porque onde impera a escuridão
Impera a poesia

Reina, então, o sentido,
O sentir, livre
Que antecede o processo
De metamorfose semântica
Numa linha reta,
Que zigue-zagueia, ilógica:
O tempo

E a metáfora da vida
Que essa linha vivida
Representa, tem sido sufocada
Pelo excesso de luz
Eletricidade e alegria artificiais
Que a humanidade se impõe
Para continuar funcionando
Como a máquina mórbida
Que nunca jaz
Porque nunca viveu.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

No fim do dia

Divago sobre a morte, a dor e o amor
As palavras se repetem
E parecem se misturar formando uma só
A noite eu me deito e no ínterim obscuro,
Desalojado de mensuração,
Que compreende o momento da cabeça
No travesseiro
Até a redenção do dia-a-dia
O sono
Fico pensando o que não deu certo
Que a vida é um abcesso no meio do nada
Com os olhos fechados e a cabeça cheia de palavras
Eu sigo reto a estrada
Para sonhar com meus sonhos
E acordar com a alma lavada
Para que no fim de cada dia
Toda a poesia da vida possa ser questionada.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Amargura

Acho que eu estou para morrer
Porque ando dormindo pouco
Como os velhos moribundos
Presos por pouco no corpo
As carícias também diminuíram
Como quem se contenta com a vida
E sofre em silêncio
Porque eu sou muito superficial
Para trazer meus sentimentos à tona
E muito sentimental
Para viver na superfície
Aguardo, então, o momento de partir
De descobrir, de solucionar
Será o climax
Ou será o final?

Por favor, que seja o fim.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Extraordinário

Eu quis ser extraordinário
E consegui
Ser extraordinariamente triste
Que Deus me perdoe
Se ele existir
Que minha mãe me perdoe
Se ela conseguir
Porque agora eu só consigo ficar deitado
Olhando para o teto
Pedindo para ele desabar
Eu só consigo amar o tabaco
Mas nem ele parece me amar
Meus pulmões estão fortes
Com sorte não vai durar
Muito tempo
Até que eu tenha câncer
E morra
Infeliz,
Extraordinariamente.

Até agora

20 anos
A plenitude da juventude
O pior ano da minha vida
Até agora.

Eu quis me reiventar
Acabei me perdendo
E destruí
Pra construir
Me tornei niilista
Provisoriamente
Pra tentar achar um novo sentido
Mas fiquei preso
Estou preso na crise de meia-idade
Não adianta fingir que teve um lado bom
Foi tudo
Uma completa bosta
Não tenho a pureza da bailarina
Ou a vontade da prostituta
Aos 20 anos
O pior ano da minha vida
Até agora.

Remorso

Um dia eu me excedi
E fui consumido pelo remorso
Então eu dormi bastante
Mas acordei meio impotente
Sendo consumido pelo remorso
Foi então que eu voltei a dormir
E dormi o suficiente
Acordei no meio da noite e fui caminhar
No fim de semana que nunca terminava
Nas férias que nunca chegavam
Eu dormi, cansado
Consumido pelo remorso
Me achei jogado, numa lata de lixo
Lugar mais que merecido
Para quem foi consumido
Pelo passado. Pelo remorso,
de ter feito tudo errado.

Afinal de contas,
eu sou um cara ruim?

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Que eu fiz comigo?

Quebrando a cabeça para afastar os instintos
Usando a cabeça para ficar de bem comigo
O mundo inteiro vira de ponta a cabeça
E o quebra-cabeças continua sem ser resolvido

Que merda eu fiz comigo?
Que merda eu fiz comigo?

Usando cocaína como antidepressivo
E brigando com meus melhores amigos por abrigo
Invejando os meus piores inimigos
Os mais dilacerados, os mais fudidos
Não estão nem perto de onde eu cheguei

Que merda eu fiz comigo?
Que merda eu fiz comigo?

Sou uma lenda do rock morta, antes de ter nascido
Sou o nobel da paz que fuzila inocentens palestinos
Sou demais eu mesmo para escolher outro caminho
Sou o poeta em busca da palavra certa
Que dê sentido às feridas abertas, por puro egoísmo

Que merda eu fiz comigo?
Que merda eu fiz comigo?

Língua solta

Queimei todos os caminhos que levavam a Roma
E me pus a vagar ermo e cansado
Desfrutando da miscelânea em que se transformou
A última flor pura do Lácio
Cheia de metáforas e gírias
Que a tornam tão vulgar quanto atraente
Conserva ainda para si, entretanto
Os segredos da comunicação com os antigos mestres
Os bastardos indecentes que souberam externar
Por palavras incoerentes, as mais coesas proesas

Cada língua é uma babel por si só
Uma meretriz inconfidente das dores dos homens
E você tem que extraí-la, você tem que subjulgá-la
Sobretudo amá-la, como uma prostituta que não teve escolha
A empatia com as palavras te colocará no limbo
Do pensamento extravagante
A loucura baterá à porta e você, ofegante
Não fará questão nenhuma de rechaça-la
Lhe pagará um drink, e então há de amordaçá-la
Guardando-na no bolso e estuprando-a na solidão
Tudo isso em palavras, versos, hieróglifos
O amor é a base de todo o ódio
E as sílabas, profetizas renegadas
Medusas atuais da humanidade
Vão se sobrepor ao seu senso de bondade
E por fim vão se pronunciar:
Não há sentido em nada, a não ser na linhas
E letras que formam de uma imagem borrada
A um reflexo perfeito do que você abriga no peito

O português já não existe. Soltaram a língua.
Ela morreu de desgaste.
Bem vindo ao século XXI, fume, beba, cheire
O som angelical do arpejo costumaz que têm
A seminal e eloquente descoberta de um novo sentimento
Tudo é amor. Tudo é palavra.
Nada é amor. A palavra está morta.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Vai dar tudo errado

Desculpe não poder te dar atenção
Estou meio ocupado, tentando te conquistar
E pra variar, inflando o meu ego de sensações
Das quais eu possa me lembrar
Quando começar a descer pra valer

Eu vou mudar, vou te esquecer
Vou construir um clone que não se pareça com você
Pelo simples fato de me amar
E vai me amar até quando eu morrer
E vai segurar minha mão e me lembrar
Que eu ainda amo você

O tempo é relativo, isso é tão clichê
Mas na verdade o que você não disse
É o que eu preciso esquecer
Eu encarei tanto tempo o abismo
Que ele me encarou de volta
Bem como Nietzsche previu
Mas pra mim foi como se fosse
A invenção da roda

Roda-viva, porta voz ativa da minha decadência
Exuberante, cheia de vida
Exibindo as feridas de uma vida errante
Vai dar tudo errado
Vai dar tudo errado
Eu estou tão ferrado que só o que me sobrou
Foi aquela semana do passado
Cheia de lírios brancos
Tempestade e ímpeto
Cd's de folk antigo e poesias sem talento
Vai dar tudo errado
Vai dar tudo errado
De novo e de novo e de novo
Amanhã é dia de viver o passado.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Mentiras

A verdade é questão de ponto de vista
Mas existem mentiras absolutas
Ditas de forma deslavada ou de cara limpa
Por omissão ou por uma simples conduta

E contra essa praga que nos assola
O melhor remédio é abraçar o conhecimento
Fazendo dele um instrumento
Contra as coisas que nos devoram

Mas não podemos fazer dele um monumento
Mantendo sempre a cabeça aberta a novas idéias
Amenizando um pouco o pesar e o desalento

Abdiquemos do que dizem que nos fará feliz
E sejamos heróis das nossas próprias epopéias
Pois o melhor mentiroso, é o que acredita no que diz